segunda-feira, 22 de abril de 2013

Velha casa


Condicionamos-nos a ações premeditadas a objetivos planejados antes mesmo que possamos sopesar se correspondem realmente aos nossos anseios. E tudo segue como planejado como premeditado como mapeado. Mas é inevitável que algumas coisas saiam do controle, imprevistos bons ou ruins, a verdade é que desaprendemos a lidar com tais situações. Diante a tais momentos é normal o desespero, a vontade de voltar para casa, mas que casa? Abandonamos nossa casa a cada nova descoberta, a cada novo sorriso, a cada conquista, porque a casa se torna pequena para tantas bagagens. Então parece que não temos para onde voltar, mas é tudo tão lógico: o certo é prosseguir!
E você ri ai sentado lendo-me. Prosseguir? E se pergunta: para onde? E questiona-me: como e por que? E eu aqui sentada também, imaginando você lendo-me não sei te responder. Porque eu também quero prosseguir, mas parece-me insano, parece desumano exigir forças para tal caminhada. Mas o certo é prosseguir. O certo vezes parece o errado, porque as pessoas esquecem que no reflexo de espelho o que lhe parece olho esquerdo é direito, então aquela ruga não está do lado errado!
Mas prossiga, volte, sente para ver televisão. Não quero me intrometer na sua vida. Vá até na cozinha buscar um café, não tenho pressa. Nunca tive. Minhas ações são premeditadas, meus objetivos milimetricamente traçados, mas quando tudo sai do controle, desespero-me, sento e escrevo linhas e linhas para acalmar-me, porque nem sempre apenas carinho acalma desespero de alma. Porque nem sempre o certo é voltar àquela velha casa.


Paula Carine

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Cama descoberta

E foi depois de muito admirar o sorrir dos sábios que descobriram ser esta uma forma intelectualizada de chorar. 
Mas  foi depois de muito ouvir que descobriram que músicas melancólicas são lágrimas cantadas.
E por fim, depois de muito se enganar, por um simples acaso, descobriram que a felicidade de muitos é um disfarce para a tristeza.
Estas descobertas, como cama desfeita de manhã cedo. 
Como cama bagunçada, coberta no chão, deixam qualquer um com preguiça de levantar e ver o dia clarear.

Paula Carine

segunda-feira, 15 de abril de 2013

SOBRE planejamentos


Você usa o presente, o "instante-já", para fazer planos e imaginar todas as coisas que podem lhe acontecer. Você até esquece de sorrir quando o amor passa. Você nem percebe que o próximo instante-já, daqui a um simples segundo, já é futuro, sujeito portanto a estes planos produzidos no ar. Você não percebe que estes planos não podem ser reproduzidos porque há circunstâncias novas a cada palpitar, a cada inspirar, a cada novo olhar. Circunstancias que são capazes de inutilizar os planos que estais a fazer. E você, bem, você esqueceu até mesmo de sorrir quando o amor passou. 
Ai chega um momento na sua vida em que tudo desaba: os planos, a sua estrada, e você, por fim. Neste momento, neste instante-já, você percebe que os planos não importavam tanto assim. É possível trafegar sem mapas quando não se sabe onde se vai chegar. E no fim, nenhum de nós sabe onde vai chegar. Porque o fim não é o sucesso profissional, o fim não é a maternidade ou um casamento feliz. O ponto final não é a fama ou qualquer aspiração do tipo. Tem um depois a tudo isso que acaba com o fechar das cortinas, ou quem sabe tem uma conversa nos bastidores, enquanto o público aplaude entusiasmado seu sucesso ou vaia seu péssimo desempenho. E isto, isto não é planejável. 
Há um ponto da estrada que é tão claro, que há tanta incidência de luz, que os olhos se enchem d'água. E é neste ponto que as pessoas costumam perceber a insignificância dos mapas, porque neste ponto não é possível consultá-lo. Alguns demoram muito a chegar neste lugar, outros não, chegam rapidamente.Tudo depende de como costumas andar por estradas. Alguns admiram tudo o que veem, cheiram todas as flores, estes demoram mais, mas aproveitam muito mais também. Outros nem percebem que haviam flores pelo caminho, chegam rápido, mas muito mais angustiados. E algumas vezes neste ponto, o amor passa, e enquanto apertamos os olhos querendo enxergar em meio a tanta luz,  ele pensa que estamos sorrindo para ele, e volta, e sorri, e esta acaba sendo a salvação. E depois, bem, o depois depende de você trafegar sem mapas, ou correr atrás dos planos que se vão pelo ar...

Paula Carine

domingo, 7 de abril de 2013

Começando em iniciais

Sem delongas,  moro aqui agora porque acordei e não tinha mais casa. É um terreno sem nada, mas aos poucos a gente faz uma casa, de pau, de barro, tijolo ou qualquer outra coisa, mas a gente constrói, constrói algo que nenhum vento derruba, a gente constrói poesia, interpretação para a vida. Está vendo, já temos algo, um casebre para proteger da tempestade. Em outras palavras, estive ausente por um tempo e quando percebi não tinha mais um blog. Uma pena. Mas não é o fim, é um começo. Mas sobrou-me um quadro e penduro ele aqui, sobrou-me um nome, "SOBREviver em prosa", que seja a única linha que me liga ao velho, porque agora é tudo novo, mas seja o suficiente para reanimar minha ânsia literária. Que seja um bom e duradouro começo, que seja assim sempre, não gosto de meios e fins. E que comece a nossa rima! 

apenas Paula Carine